quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Henrique Raposo

I. A ministra da cultura esqueceu, por momentos, o refrão socrático, e apontou para a realidade: o Estado Social está a colapsar , porque é demasiado grande, porque gasta aquilo que a sociedade não consegue criar. Sucede que esta conta simples incomoda os ouvidos sensíveis da nossa esquerda, a mais jurássica de toda a OCDE. E, agora, a dra. Canavilhas vai receber um telefonema e ouvir aqueles berrinhos insuportáveis do primeiro-ministro. Mas, com ou sem berrinhos de José Sócrates, a realidade está a fechar a porta, e mais gente vai dizer aquilo que Canavilhas afirmou. E aqui entra em jogo a proposta de revisão constitucional do PSD, que está a ser recebida com os berrinhos do irrealismo reinante.

II. Não crescemos como deve ser há 11 anos, a despesa do Estado não pára de aumentar, pagamos 6% sobre a nossa dívida, todos os dias há notícias sobre o colapso do Estado e do Estado Social (escolas que fecham, juntas de freguesia sem dinheiro, etc.), e, mesmo assim, o PS e os pivots de TV - esses oráculos da nação - não aceitam a legitimidade de uma proposta que pretende reformar este estado de coisas. Ou seja, a proposta do PSD nem sequer é discutida racionalmente. Nem sequer se chega à parte em que se concorda ou se discorda. Não. A proposta é rejeitada à partida, sem discussão. De facto, não é preciso mudar nada em Portugal. Está tudo óptimo.

III. Aliás, as TVs têm tratado estes assunto com histerismo verbal e com desonestidade intelectual. Dizem-me que Rodrigues dos Santos abriu o Telejornal de ontem repetindo o seguinte: "PSD acaba com educação e saúde tendencialmente gratuitos". Eu não vi, mas estou a ver o filme. Ora, são estas bombas populistas que criam um sociedade irreformável, onde é impossível desenvolver um debate racional sobre os nossos problemas. Estamos na fossa, mas grita-se contra aqueles que dizem "olhem, estamos na fossa, se calhar temos de secar isto". Rodrigues dos Santos e afins nunca explicam o estado comatoso das nossas contas, nunca explicam às pessoas que as despesas com a saúde são incomportáveis, e depois lançam estas bombas contra aqueles que apontam o dedo para a realidade insustentável. Rodrigues dos Santos leu a proposta do PSD? Todas as TVs estão dominadas pelo spin dos assessores de Sócrates?

IV. Meus amigos, o país está a chegar a um ponto em que o debate principal não é entre esquerda e direita, ou entre liberais e não liberais. O principal debate é entre aqueles-que-olham-para-a-realidade e aqueles-que-evitam-olhar-para-a-realidade. O PSD, bem ou mal, está a olhar para a realidade, a apresentar propostas para o país sair do buraco. Em resposta, o que faz o PS? Diz que não estamos no buraco, diz que está tudo bem. Nós estamos a pagar 6% sobre a nossa dívida, mas o PS diz que está tudo bem. Isto até é cómico.

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