"Era uma vez uma rã que se chamava Ana Peres. Para rã até era bonita, cores vistosas, olhos dourados, eficazes membranas interdigitais, belas pernas capazes de a dimensionar em saltos de dois metros... enfim, tinha tudo aquilo que uma rã precisa para vencer na vida.
Ora um dia, durante o passeio matinal, Ana encontrou um bonito tritão-verde, com umas manchas pretas bem delimitadas no dorso, uma soberba linha cor-de-laranja ao longo das costas e uma cauda de perder o fôlego. Chamava-se Tertulião.
Ana Peres ficou banzada com a cauda de Tertulião e verde de inveja por não ter igual. Aborrecida, nesse dia só comeu lesmas, tal era a contrariedade.
Ao vê-la assim amargurada, uma amiga dela, Hilda, quis saber o que se passava.
-olha - disse-lhe Ana Peres - deparei-me com a cauda do Tertulião e acho uma injustiça não ter uma igual. Que bem que me ficaria, como saíria favorecida!
Hilda tinha feito alguns estudos de ranologia e estava em condições de informar a amiga acerca da sua génese, mormente da magnífica cauda que já lhe ilustrara a retaguarda do corpo na aurora da juventude.
Mas Ana já se olvidara dos seus verdes anos e nem um vislumbre lhe chegava desses tempos. Cheia de mágoa, estabeleceu o fitode voltar ao passado. Ter uma cauda ondulante tinha-se tornado para ela um imperativo ainda mais forte que viver.
De novo a solução lhe surgiu através de amigos. Coaxava Ana Peres a sua dor nas margens de um riacho numa noite quente de Outono quando Cassandra, a salamandra, que a ouviu, se aproximou.
- Que se passa?
E Ana elencou o que a transtornara.
-Sabes? - atalhou Cassandra- regressar ao passado, na sua vertente de regredir ao tempo das caudas, é para ti uma impossibilidade tão grande como anteciparmo-nos a viver o que será a nossa forma em futuras evoluções. O caminho terá de ser outro. Já ponderaste a hipótese de uma visita virtual?
- Uma visita virtual?... Não queres falar com boca de rã? Não percebi essa da visita virtual.
- Estou a referir-me ao mundo paralelo da alucinação - explicou Cassandra, enquanto realçava o amarelo-sol da sua mancha na omoplata esquerda. - Saberás que estou em condições de te fornecer um produto alucinogénio que te permitirá viajar por todo o lado. Podes mesmo ir até ao teu passado. Vês estes inchaços na parte de trás da minha cabeça? São parótidas, duas glândulas que segregam um líquido que me defende dos inimigos, mas como é uma droga... as drogas permitem-nos viajar, não é?
Ana Peres deixou-se inebriar pelos seus argumentos de Cassandra e recolheu ali mesmo algumas doses do produto da sua amiga salamandra, isolando-se depois num charco longínquo que só dela conhecido.
Passaram dias e noites e de Ana Peres nada. Os amigos procuraram-na em vão.
Uma libélula de sangue real frequentadora de lugares exóticos encontrou por mero acaso o seu corpo já bem morto.
A autópsia foi conclusiva, overdose. Ah sim, a droga mata.
Falta só a moral da história, que é:
Por um belo rabo se perde muitas vezes a cabeça!"
Ora um dia, durante o passeio matinal, Ana encontrou um bonito tritão-verde, com umas manchas pretas bem delimitadas no dorso, uma soberba linha cor-de-laranja ao longo das costas e uma cauda de perder o fôlego. Chamava-se Tertulião.
Ana Peres ficou banzada com a cauda de Tertulião e verde de inveja por não ter igual. Aborrecida, nesse dia só comeu lesmas, tal era a contrariedade.
Ao vê-la assim amargurada, uma amiga dela, Hilda, quis saber o que se passava.
-olha - disse-lhe Ana Peres - deparei-me com a cauda do Tertulião e acho uma injustiça não ter uma igual. Que bem que me ficaria, como saíria favorecida!
Hilda tinha feito alguns estudos de ranologia e estava em condições de informar a amiga acerca da sua génese, mormente da magnífica cauda que já lhe ilustrara a retaguarda do corpo na aurora da juventude.
Mas Ana já se olvidara dos seus verdes anos e nem um vislumbre lhe chegava desses tempos. Cheia de mágoa, estabeleceu o fitode voltar ao passado. Ter uma cauda ondulante tinha-se tornado para ela um imperativo ainda mais forte que viver.
De novo a solução lhe surgiu através de amigos. Coaxava Ana Peres a sua dor nas margens de um riacho numa noite quente de Outono quando Cassandra, a salamandra, que a ouviu, se aproximou.
- Que se passa?
E Ana elencou o que a transtornara.
-Sabes? - atalhou Cassandra- regressar ao passado, na sua vertente de regredir ao tempo das caudas, é para ti uma impossibilidade tão grande como anteciparmo-nos a viver o que será a nossa forma em futuras evoluções. O caminho terá de ser outro. Já ponderaste a hipótese de uma visita virtual?
- Uma visita virtual?... Não queres falar com boca de rã? Não percebi essa da visita virtual.
- Estou a referir-me ao mundo paralelo da alucinação - explicou Cassandra, enquanto realçava o amarelo-sol da sua mancha na omoplata esquerda. - Saberás que estou em condições de te fornecer um produto alucinogénio que te permitirá viajar por todo o lado. Podes mesmo ir até ao teu passado. Vês estes inchaços na parte de trás da minha cabeça? São parótidas, duas glândulas que segregam um líquido que me defende dos inimigos, mas como é uma droga... as drogas permitem-nos viajar, não é?
Ana Peres deixou-se inebriar pelos seus argumentos de Cassandra e recolheu ali mesmo algumas doses do produto da sua amiga salamandra, isolando-se depois num charco longínquo que só dela conhecido.
Passaram dias e noites e de Ana Peres nada. Os amigos procuraram-na em vão.
Uma libélula de sangue real frequentadora de lugares exóticos encontrou por mero acaso o seu corpo já bem morto.
A autópsia foi conclusiva, overdose. Ah sim, a droga mata.
Falta só a moral da história, que é:
Por um belo rabo se perde muitas vezes a cabeça!"
escrito com o humor de sempre
Pe. Carlos Azevedo Mendes
Bichos e Deus ali tão perto
Pe. Carlos Azevedo Mendes
Bichos e Deus ali tão perto
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